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"Cantos de Luta e Esperança" completa 9 anos no ar

No ano de 2001, mais precisamente em 12 de Junho, nascia a Rádio Comunidade FM 104,5 - RADIOCOM -, um meio de comunicação alternativo. Os mo...


No ano de 2001, mais precisamente em 12 de Junho, nascia a Rádio Comunidade FM 104,5 - RADIOCOM -, um meio de comunicação alternativo. Os movimentos sociais finalmente concretizavam uma antiga aspiração, dar voz aos sem voz, através de uma programação que privilegiasse a informação e a cultura popular.

A descoberta desse instrumento de comunicação fez com que os militantes culturais buscassem seu espaço na grade de programação. A proposta da RADIOCOM era de que os programas fossem coletivos, a fim de evitar o surgimento de “figurões da comunicação”.

Assim, três pessoas que até então não se conheciam, mas comungavam da idéia de que a pampa é um espaço geográfico com um tipo humano comum e com culturas que possuem pontos de ligação, além de entenderem que as culturas regionais devem ser divulgadas e preservadas, como forma de se contrapor à globalização que busca padronizar a cultura, criam (em 23 de Junho do mesmo ano) o "Cantos de Luta e Esperança". A produção e apresentação era coletiva, viva e ao vivo.

Cada um dos fundadores, Fernando Soares (Jaguarão), Oscar Massita ( Uruguay) e Maurico Raupp Martins (São Lourenço do Sul), escolhia um tema num bloco de três músicas, tudo sem ensaio ou reunião prévia. Apesar das diferenças de personalidades, a coincidência de idéias e ideais foi mais forte e o programa foi adotando, naturalmente, um rosto, em que os cantores regionais, populares e comprometidos com a verdade e com o seu povo foram sendo anunciados e conhecidos, aos poucos e pela primeira vez, por muitos.

O programa também muitas vezes saiu do estúdio e realizou transmissões externas, seja da sempre lembrada Parrillada Salamanca, da residência de Rodrigo Schlee no Laranjal, da Parrillada Mercado Del Puerto, do Teatro 7 de Abril, no Lançamento do CD de Xirú Antunes e Theatro Esperança em Jaguarão só prá citar alguns exemplos.

Freqüentemente são apresentadas entrevistas (geralmente as terças) ao vivo ou por telefone, com algum nome ligado à poesia ou à música identificada com a temática sul americana. Apresentações musicais ao vivo, fazem parte da proposta do programa, revivendo assim antigos e famosos programas de auditório, que marcaram época desde as décadas de 50/60. Assim como a linha da RADIOCOM, que propiciava oportunidade aos "desconhecidos", às pessoas que não estavam na "mídia", no programa também, rodam os grandes nomes, os que fizeram a história, mas também aquele desconhecido do grande público, mas que lá do seu rincão e do seu interior traz um canto ou poesia de amor à terra e às pessoas.

Com o passar do tempo, Oscar Massita retornou ao Uruguai, mas o programa manteve sua linha e, além de tudo, continuou coletivo (os ouvintes e/ou convidados que nos visitam, também sugerem músicas) vivo e ao vivo, onde a regra é não ter regra, a não ser a da sensibilidade do momento, o que permite, em um só programa, ouvir Elomar, Gildo de Freitas, Alfredo Zitarrosa (Uruguay), Silvio Rodrigues (Cuba), Noel Guarani, poetas e músicos da nossa região e tantos outros que vem construindo a história musical da América Latina e do Rio Grande do Sul, desde antes do surgimento da Califórnia da Canção. Vale lembrar que constantemente o programa recebe mensagens de países como Uruguay, Argentina e Venezuela de onde os ouvintes que nos acompanham via internet, ficam entusiasmados com a proposta e formula do mesmo.

Para o programa “Cantos de Luta e Esperança” em cada geografia uma identidade cultural e dessa forma devemos observar o nosso continente. Em suma, um passeio poético e musical pela América, sempre buscando encantar os ouvidos e inquietar a alma, de cara alegre e yerba buena.
(Fernando Soares)

É com imensa satisfação que o SEJA faz 2 perguntas à Fernando Soares e 2 perguntas à Maurício Raupp Martins do Programa radial "Cantos de Luta e Esperança".

Fernando Soares, hoje o programa está completando 9 anos no ar. Quando tu, o Massita e o Maurício idealizaram o “Cantos...” em 2001, qual era o objetivo de vocês? Pretendiam fazer do “Cantos de Luta e Esperança” o programa que ele é hoje, com essa proposta e identidade?

FS - Há 9 anos era quase impensável que um programa de rádio rodasse músicas e/ou poesias de poetas, letristas e instrumentistas, de raiz folclórica e popular de várias regiões da América Latina. Mais, que a maioria das poesias e letras fosse de autores comprometidos com sua terra e sua gente. Músicos e poetas que de alguma forma cantassem e escrevessem temas de conteúdo social que expressassem sua inconformidade com as injustiças e desigualdades tão comuns em nosso continente. Pretendíamos sim exatamente isso e também, abrir espaço à música instrumental e aos poetas, letristas e músicos da nossa região e também desconhecidos, que ficam à margem da programação das emissoras comerciais. Acredito que essa proposta e identidade se mantêm até hoje.

Fernando, por onde anda o Oscar Massita? Tu e o Maurício mantêm contato com ele? Ele ainda participa do Cantos de Luta e Esperança de alguma forma?

FS - O cantautor Oscar Massita, em fins de 2002, após 10 anos residindo em Pelotas, retornou a seu país, Uruguai. Em plena atividade musical, nos últimos dois anos, já lançou dois CD's. Sua obra conta com 4 discos gravados, sendo que o primeiro foi há aproximadamente 10 anos. Em 2008 lançou "Manantiales" (Mananciais) disco onde, depois de um intenso trabalho de pesquisa, apresenta a "serranera" como sendo o único ritmo musical autenticamente uruguaio. Neste ano está lançando o CD "Cantos de Lucha y Esperanza", uma obra que conta com 7 poesias de Mauricio Raupp Martins, algumas de sua autoria e outras de outros autores uruguaios. Este disco, que já está à venda, deverá ser lançado ainda este ano em Pelotas. Massitta participa sim do projeto "Cantos de Luta e Esperança", já que além de acompanhar o programa pela internet, mantém contato permanentemente conosco. Além do que, freqüentemente, aparece por aqui.

Maurício Martins, o programa participou de vários festivais com transmissões e intervenções ao vivo. Vocês entrevistaram grandes personalidades do meio poético-musical latino americano. Quais foram os momentos mais marcantes pra ti durante esses 9 anos de estrada?

MM - De fato, através do “Cantos de Luta...” e da Radiocom, tivemos oportunidade de assistir ao vivo grandes nomes. E não foram poucos: Horácio Guarani, Argentino Luna, Mercedes Sosa, Antônio Tarragoros, Numa Moraes, Jose Carbajal “El Sabalero”, Larbanois & Carrero, Daniel Viglietti, Pepe Guerra, Bráulio Lopes e os dois juntos, em Montevideo, no Centenário, quando em forma de Duo, o histórico Los Olimareños, voltaram a atuar juntos. Cada um destes nomes conta não só pelo seu talento, mas por uma grande carga histórica de resistência cultural e política. Não é de graça que o “Cantos...” esteve presente em cada uma destas apresentações. Todas foram muito especiais e emocionantes, mas tenho de destacar duas delas.

Uma delas foi participar de uma entrevista coletiva com a Mercedes Sosa, estando a menos de dez metros de distância e ver aquela senhora idosa, já com a saúde debilitada, mas vibrante e ainda engajada nas causas da América do Sul. Como ela mesma dizia, os prêmios que ganhou ao longo da vida não lhe foram outorgados porque cantava bem, mas por sua forma de pensar e agir. Ali estava ela falando de contatos recentes com as Mães da Praça de Maio, Hugo Chaves, Rafael Corrêa e assim por diante. Essa mesma senhora que durante a tarde na entrevista demonstrava saúde debilitada, á noite entrou no palco amparada, sentou em sua cadeira e soltou a voz. Mansa, limpa, sem fazer força. Eu fechei os olhos e fiquei atento a voz, era a mesma de sempre, impressionante. Era um festival dos mais campeiros do estado, a Vigília de Cachoeira, mas o público que lotou o local queria ouvir La Negra. Foi um silêncio absoluto, somente interrompido pelos aplausos. Pouquíssimos artistas conseguiram ter tanto magnetismo como a Mercedes. Para arrebatar, aquela senhora que entrou amparada no palco terminou a apresentação e afastou-se do palco dançando, sozinha. Com certeza essa valeu a pena.

Outra foi a apresentação do Pepe Guerra e do Bráulio Lopes juntos (Los Olimareños), no Centenário. Não só por ver um mito vivo da memória coletiva do povo Uruguaio, mas por presenciar aquele encontro de várias gerações daquele povo. Para alguns era o reencontro com seu próprio passado e, para outros, aqueles que somente pela voz dos mais velhos conheciam o mito, a oportunidade de ver e ouvir, ao vivo e à cores, um pouco da história do seu próprio país. Afinal, Los Olimareños foram fundamentais, dentro do Uruguai, para o surgimento de um canto autenticamente uruguaio e popular e, no exílio, uma voz constante e respeitada contra o regime de exceção. A história do Duo se confunde com parte da história do Uruguai e, com certeza, assim como Zitarrosa, estão enraizados na memória popular. São esses dois momentos que destaco.

Maurício, depois de tantas realizações no terreno regionalista, uma grande, participativa e qualificada audiência, o que mais vocês almejam? Qual é a meta do Cantos de Luta e Esperança para os próximos 9 anos?

MM - Até aqui penso que o “Cantos de Luta e Esperança” contribuiu, de uma forma modesta, para algumas transformações. A primeira delas refere-se a divulgação da música latino americana, regional de raiz brasileira e a dita música nativista em um mesmo espaço. Com isso, aos poucos, o preconceito, principalmente no que se refere à música de inspiração folclórica e popular da Argentina e a música de origem rural e o canto popular do Uruguai. O pampa foi enfatizado com uma região geográfico em que habita um tipo humano comum, o gaúcho ou gaucho. Por Pelotas possuir uma tradição com a música em espanhol, afinal por aqui já acontecia o Latino música, o Círio, entre outras experiências nesse sentido, a proposta ganhou aceitação. Com o tempo ela se tornou comum a outras emissoras, inclusive fora de Pelotas.

O mesmo preconceito que havia com relação à música em espanhol era registrado com a música regional de raiz brasileira. Apesar de não rodar com tanta freqüência nomes como Dércio Marques, Xangai, Elomar, Renato Teixeira, Cordel do Fogo Encantado, Antônio Nóbrega, apenas para citar alguns, sempre estiveram presentes no “Cantos...”. Hoje, muitos desses nomes já são conhecidos do público, até porque haviam outros programas na rádio com este perfil, como por exemplo, o Vozes do Brasil. Mas acho que o Cantos contribui também um pouco nessa linha. Enfim, ser um espaço para o mosaico da cultura autêntica desse nosso Brasil que quase todos nós, de certa forma, conhecemos pouco. Outro desafio foi sempre o de tentar combater esse tipo humano estereotipado que, no geral, aparece nas músicas dos festivais. Procuramos fazer isso trazendo o que entendemos de valioso que é produzido nos festivais – desde as antigas Califórnias até os festivais atuais. Ainda é um espaço que se produz coisas boas, em menor número é verdade. Então, fazendo a peneira e mostrando o que entendemos de melhor, o mais universal ou o mais autêntico e não comercial, muitos que tinham preconceito, verdadeiro pavor da música produzida nos festivais do Rio Grande do Sul acabaram percebendo que nem tudo está perdido. Por outro lado, há que se desafiar os mais conservadores, com provocações constantes, no bom sentido é claro.

O “Cantos de Luta e Esperança” não é nem nunca vai ser um reduto dos festivais. Por aqui sempre vai ter espaço para Noel, Cenair, Raul Ellvanger, Vitor Ramil, Bebeto Alves e por ai vai. Então, é um permanente confronto de idéias e isso é que é o importante. Com relação ao futuro, acho que é seguir a regra de não ter regras, tocar aquilo que verdadeiramente se acredita e seguir a intuição. De resto, gostaria de ter mais tempo para pesquisa e agendar entrevistas semanais com pessoas que atuam na arte e que pudesse contribuir para o debate. Enquanto o tempo não sobre segue a luta porque esperança sem luta é espera. Abraços Mauricio.

(Daniel Moreira)
http://revista-seja.blogspot.com

"Cara alegre, yerba buena e canções que encantam os ouvidos e inquietam a alma"
Cantos de Luta e Esperança - Ano 8
Terças às 21h e domingos às 10h30
Rádio Comunidade 104,5 FM - Pelotas/RS - Brasil
www.radiocom.org.br - Ouça ao vivo!
msn: cantosdelutaeesperanca@hotmail.com
facebook.com/programacantosdelutaeesperanca

2 comentários

  1. Mil gracias pela divulgação, queridos amigos. Isto foi um belo regalo de aniversário. Gracias mesmo!!
    Fernando Soares

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  2. Obrigado pelos créditos, estamos sempre a disposição. Um abraço
    Daniel Moreira - SEJA

    ResponderExcluir